domingo, 14 de novembro de 2010

UNO- "O princípio de tudo- o Deus"

Quando discursava,
seu intelecto visivelmente iluminava sua face:
de presença sempre cativante,
nessa época ele havia se tornado ainda mais encantador:
uma leve umidade escorria de sua fronte;
Plotino irradiava benignidade.
(Porfírio, Sobre a Vida de Plotino…)

O conceito de Uno atribuído a Plotino (c. 205 – 270) causou um enorme impacto no modo tradicional grego de pensar, conhecer tal conceito é conhecer uma das raízes que ao passar dos anos, na idade média, veio formar o próprio conceito de Deus no cristianismo.

"Tão relevante é à formação do cristianismo dos primeiros séculos da era cristã, que se acredita a ele a fonte que teria levado Agostinho às reflexões que lhe serviram de base para formulação de sua doutrina; porquanto fora através da leitura de Plotino e de Porfírio que o Bispo de Hipona, por fim, conceberia então o conceito do Ser eterno e imutável, a realidade imaterial que transcenderia seu espírito" (Bochet, 1996:41).

"Foram os conceitos do neoplatonismo que conduziram Agostinho à crença de que o universo não somente havia surgido de um Princípio Uno, mas que também tendia a retornar à Unidade" (Marrone, 2008:30).

O Uno antecede e gera o Pensamento, que, por sua vez, é identificado com o que ele chama de Espírito ou Inteligência (Nous). Sem o Primeiro Princípio, o Espírito nada seria (Laurent, 1996:423).

Ainda segundo a elaboração plotiniana, o Uno se caracteriza por ser absolutamente Uno, e não-múltiplo; sem limites; sem extensão, nem figura; sem movimento, nem repouso; atemporal, sem sentido, nome ou conhecimento (Bezerra, 2006:71)

O Uno ainda constitui a primeira das três hipóstases que compõem a filosofia Plotino. As demais são: a segunda hipóstase, o Espírito; e a terceira hipóstase, denominada de Alma. As hipóstases são sucessivas e ocorrem através do que Plotino denomina Processão (Próodos).

Segundo Plotino, o Uno refere-se a Deus, dado que sua principal característica é a indivisibilidade. "É em virtude do Uno [unidade] que todas as coisas são coisas." (Plotino, Enéada VI, 9º tratado).

Assim, o Uno, por ser livre, através de sua atividade e pela Processão, gera o Espírito. Este último, a seu turno, também pela Processão, gera a terceira e derradeira hipóstase, a Alma, o mundo sensível.

Assim foi concebida a ideia do Uno por Plotino: gerador de todas as coisas e, ao mesmo tempo, destino de tudo o que foi gerado. Alguma semelhança com o Deus cristão?
                                                                                                                j.leonardo

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